20 de agosto de 2015

Navego pela cidade velha num passo descontraído.
Tento, no meu andar sem destino, misturar-me com a gente que me acompanha.
Por mais que tente, todos sabem que sou estrangeiro. Sou traído pela minha altura avantajada quando comparada às crianças adultas que lá habitam. O meu cabelo dourado sobressai igualmente na macha de cabelos escuros dos bonecos morenos.
Ando pelas ruas, decrépitas, velhas. O piso é limpo e plano para minha surpresa. Não é a cidade das sete colinas nem a dos cigarros no chão. Não vejo lixo por mais que procure.
As casas de paredes gastas, têm quase todas uma varanda em ferro enferrujado que não inspira confiança. Ameaça cair a qualquer momento com ruído de ferro a dobrar a esquina.

Conseguiram tornar a velha cidade numa cidade viva com aquilo que na minha terra natal se vê como acto de vandalismo.
Nestas paredes, os riscos de rebeldia davam lugar a verdadeiras obras de arte que enchiam de cor aquela cidade em ponto pequeno.
Paisagens emolduravam uma parede, animais trepavam outra e rostos tomavam conta das restantes.

Nem tintas nem imaginação faltavam.
Ao passar numa ruela, parei para observar um senhor que acariciava um desenho com um pincel.
Enquanto desenhava uma figura Hindu, amarela e preta, o homem apresentava-se concentrado e calmo. Era perfeccionista.

Cansei-me de tirar fotografias às paredes. Eram muitas e a minha bateria e memória limitadas.

Porque não tornar os bairros sociais em obras de arte?
Ao mesmo tempo que se restaurava, dava-se nova vida aos bairros e, quem sabe, até se atraia o turismo local.

Deixemos de rabiscar a vida e passemos a desenha-la a cores.

Sem comentários:

Enviar um comentário