30 de março de 2015

Vamos correr? Correr o mais que possamos!
Vamos correr até o ar forçar a entrada nos nossos pulmões e impedir as palavras de saírem.
Vamos correr até ficarmos sem palavras, mudos a olhar um para o outro.
Vamos a correr a fugir dos nossos problemas, para um tempo depois a eles voltarmos. Vamos esquece-los. Por breves momentos é certo, mas não é melhor que nada?

Quanto mais os sufoco, quanto mais os enterro e os ignoro, mais importância eles ganham. Tornam-se num assunto não resolvido, numa bola de neve colina abaixo. Ganham cada vez mais peso. Ocupam cada vez mais espaço na minha cabeça. Preocupam-me cada vez mais.

Sim, devia esclarece-los, cuidar deles, resolve-los. Mas dá tanto trabalho... Não tenho vontade! Nenhuma. Não quero fazer nada! NADA!

Mas tem que ser. O tempo não pára, o relógio não espera e as coisas têm um prazo.
Não o posso ultrapassar se não quero arranjar chatices.

Vamos correr?

28 de março de 2015

"Perdes todo e qualquer refúgio. Caem as paredes e o tecto e ficas só, frente a frente com a tua sombra diminuída, entregue à arritmia ensurdecedora do teu coração. E sem paredes e tectos, dás por ti no centro de um tornado violento de silêncios somente teus. Silêncios que, apesar de silêncios, te gritam incessantemente aos ouvidos, impiedosos e desarmantes, abalando-te e subjugando-te como nenhuma outra voz consegue fazer. E então ficas nu nesse mesmo lugar que ocupas, nessa escura terra húmida que pisas e te envolve os pés agora descalços, desprovido das roupas que antes te acarinhavam a pele. É como se te arrancassem um tapete de debaixo dos pés de um puxão só. Ou talvez como se tirassem de debaixo de ti todo o teu chão, todo o apoio em que dia após dia te equilibras plenamente com a confiança cega de que estará para sempre lá, e é caíres desamparado num buraco sem fundo e avançares aos trambolhões por uma qualquer ravina imaginária. É congelares no tempo e constatares que, como sempre ouviste dizer, o mundo e as pessoas que conhecias não congelaram e não esperaram - nem esperam - por ti. É a vida em teu redor manter o ritmo frenético e tu ficares para trás; seres posto de lado como aquela comida de que não se gosta na borda do prato. É fazeres tudo e saber-te sempre a pouco. E é estares lúcido e são e estares ao mesmo tempo louco."

24 de março de 2015

Abraça-me.
Preciso de um abraço que me impeça de me afogar em lágrimas.
Olho-te intrigado.
És real? É uma pergunta estúpida. Sei que és. Mas mesmo assim pergunto-me se és real.
Com tantos sítios onde poderias estar, onde poderias ter nascido, porquê aqui? Porque é que a tua vida se cruza com a minha? Acredito que tudo tem um sentido e que há uma razão para estares aqui. Falta-me saber qual.
Se for para me fazeres rir, para me ensinares, para disparatarmos, tudo bem.
Estou contigo há tempo suficiente para saber o significado dos teus olhares, para decifrar as tuas expressões e para ler nas entrelinhas das tuas palavras. Isso satisfaz-me.
No entanto, se for para contornar os teus lábios com o meu olhar, desejar-te de uma prisão de onde não posso sair, não sei o que é melhor para mim nós.

11 de março de 2015

Percorro o teu corpo de olhos fechados.

As minhas mãos não precisam de mapa. Os meus dedos conhecem bem o caminho.
Já por ti viajaram muitas vezes até aos sítios inacessíveis. Caminhos que são só meus para eu percorrer.
Deslizam na tua pele suave. Preenches-me as mãos. Repousa a cabeça sobre o meu peito e ouve o meu coração. Bate descansado no teu ouvido.

O teu calor humano reconforta-me enquanto a minha humana mão acaricia a tua cabeça.

Dorme meu amor.

9 de março de 2015

Quanto mais força faço para te largar mais me sufocas.

Roubas-me o ar dos pulmões e a vontade de viver.

Não te consigo enfrentar, olhar-te nos olhos, ouvir falar de ti.

Desaparece.

8 de março de 2015

Quero dormir.
Quero adormecer sem memórias do dia para me sonhar em paz.
Descansar num sonho irreal para um verdadeiro acordar pela manhã.
Sonho-me correndo, fugindo de desconhecidos perigos do sonho.

A mente guarda num quarto clandestino as adversidades do dia.
Solta-as pela noite como cães de caça no mato.

Acordo suado. Escapei por pouco.
O meu coração bate acelerado e sinto-me a desfalecer.
Quero descansar, quero dormir.
Aguardo um sono descansado onde possa sonhar sem correr.

Levanto-me, lavo-me, e apanho o autocarro.
É um dia igual aos outros.

6 de março de 2015

"Volta
Fica só mais um segundo
Espera-te um abraço profundo
Nele damos voltas ao mundo
No amor mergulhamos a fundo
Quero-te só mais um momento
Para pintar o teu céu cinzento
Marcar o teu rosto no meu peito
Recrearmos um dia perfeito
Volta para bem dos meus medos
Preciso de ti nos meus dedos
De acordar-te sempre com segredos
Com um sorriso paravas o tempo!
Volta porque não aguento
Sem ti tudo ficou cinzento
Prefiro ter-te com todos os defeitos
Do que não te ter no meu peito
Porque sem ti não consigo
Volta para me dar sentido
Sou apenas um corpo perdido
Por isso só te peço que voltes

Volta"