O cheiro da cidade cansada esconde-se no aroma da primavera;
Deambulam por aí, arrastados.
Quem lhes dera.
De olhos em baixo, pescoço descaído, pés pelo chão
Pensam no ontem ou então, num amanhã hipoteticamente melhor.
Não sabem; mas quem lhes dera.
Quem escreveu o seu destino era maneta ou tremia tanto que a caneta, dançava no papel enrugado.
Sobre linhas tortas se desenha a vida continuamente e na inexistência de réguas ou esquadros vivem-se momentos amargos nas ruas da nossa mente.
Perdemo-nos nelas. Sei que custa de lá sair, mas não sei se assim o queremos.
Tudo o que fazemos faz-nos embrenhar mais nessa floresta escura, entrar no labirinto que perdura, encontrar o lago da amargura. E é aí que choramos.
Encontramos a lagoa das nossas lágrimas interiores, dos nossos medos e terrores.
Aqueles que não contamos a ninguém. Sentamo-nos à margem e esticamos a cabeça na esperança de ver algo que nos faça sentir bem. Vejo uma imagem na água reflectida. Somos nós. Eu a olhar para mim. Pareço cansado. Estou cansado.
Uma gota escorre na minha face e faz o seu caminho até ao lago. Não é algo que me embarace.
Ao tocar a água, forma uma série de perfeitos círculos à sua volta. Até a tristeza tem a sua perfeição.
Tenho fome e não tenho nada para comer.
Dão nozes a quem dentadura tem que usar. Tudo lhes é dado e não o sabem, ou pior, não querem aproveitar.
São alérgicos talvez.
Mas quem lhes dera.
Sinto cheiro da cidade cansada escondido no aroma da primavera,
Lembro-me das pessoas de olhos baixos, pescoço descaído e os pés pelo chão.
Deambulam por aí, arrastados.
Quem lhes dera.
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