15 de junho de 2015

Liga o brilho da televisão falante que traz a luz sonante das notícias.
Conversa com o empoeirado sofá que foi bem tratado quando era jovem e as suas pernas de madeira não rangiam.
Não se senta lá ninguém. Ou porque o sofá é velho ou porque velho é o rabo de quem lá se senta e não se consegue levantar. Ou porque as pernas ligadas ao velho rabo também velhas são e rangem ao andar.
Prefiro o tipo de ligação da televisão.
Os tapetes servem de cortinados ao taparem o fraco sol que não ilumina a casa.
A luz amarelada do candeeiro da mezinha de cabeceira tã pouco faz o seu dever. Outrora fe-lo.
Antes de acender escuridão. Fundiu.
Para ler connosco serve apenas como companhia e não como utilidade. Um candeeiro não lê às escuras. E eu também não. Afastar o tapete serve o meu propósito tão bem quanto o candeeiro.
Embora esteja calor, o varão das escadas abana-se com o vento. Não transpira. Suo eu quando subo as escadas para o sotão desabitado. Cada degrau é uma prova de sobrevivência, um desafio à vida. Ameaçam fazer-me uma rasteira de cada vez que lhes pouso os pés em cima. Já não estão habituados.
Continuam a refilar. O varão continua com calor e eu continuo a transpirar. Não me atrevo a segurar a vara, não vá ela largar-se e levar-me com ela. É uma falsa amiga. Temo que tenha nela um guarda-costas que me ataca pela frente.
Uma cama dorme entre as quarto paredes idosas que de lá nunca saíram. Não me dou ao trabalho de procurar uma almofada amarrotada entre o monte de lençois, mantas e outras almofadas com a fofura de tijolos partidos. Estou cansado e são horas de dormir.
O cuco ainda não saiu. Também ele já deve estar na cama.
Faço-lhe companhia.

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