«Sempre achei que o fim – o nosso fim – seria mais ou menos como atravessar uma nuvem a meio de uma viagem de avião.
Primeiro vem a turbulência; abana-nos no lugar e faz-nos tentar, inutilmente, agarrar a cadeira com mais força. Depois a agitação passa e não há mais nada. Só branco. Um branco que cega, um branco tão puro, que traz em si toda a luz do universo. E o silêncio – um silêncio quase óbvio, a condizer com a ausência de cor.
Mas não. Nem turbulência, nem branco, nem silêncio. Em vez disso, o nosso fim cheirou-me a Tejo e colou-se-me à pele. O nosso fim foi um passeio da Baixa ao Terreiro do Paço. Foi um fim cheio de multidão. Colorido como as festas de Lisboa e tão vivo, tão diferente, tão nosso.
Foi como se nos tivéssemos perdido um do outro no meio de um arraial, enquanto dançávamos. Sei que tu não danças e tu sabes que eu tenho vergonha de fazê-lo, mas foi mesmo assim que o senti – como uma dança interrompida no auge da festa.»
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